quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Teses sobre o desejo (2)

Será o desejo exclusivamente humano? É certo que compartilhamos o universo da libido com todos os demais seres vivos. Mas libido e desejo são diferentes, embora relacionados. É difícil conceituar libido que, segundo Lacan, é uma “ficção necessária”. A libido se confunde com a própria vida: é a insistência em divergir, se multiplicar, continuar ou, em outras palavras, a luta da vida contra a tendência implacável do universo à entropia, à desorganização, isto é, a morte. Característica da vida é a sua obstinação em se repetir ou, em termos mais técnicos, de se replicar. Podemos entender a libido como um algoritmo de replicação baseado num código genético, o DNA, comum a todos os seres. Ora, este algoritmo genético é a base do que, nos animais, chamamos de “instintos”, que são comportamentos inatos e “programados” na maioria dos seres. Assim, as tartaruguinhas ao sair do ovo já correm de imediato para o mar, os bezerrinhos já sabem onde procurar o leite de suas progenitoras. Já o bebê humano, não: ele não pode ir até o seio da mãe. É o seio da mãe que tem que ir até ele.  Daí que nos seres humanos, haja algo mais do que a necessidade que se impõe como um “instinto” interno: ela precisa ser atendida e para ser atendida precisa ser demandada (“quem não chora não mama”...).

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