quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Eleições 2010 (4)

É preciso admitir que as UPPs são uma novidade na estratégia policial mais recente. É verdade que o mesmo governo que vem implantando as UPPs iniciou sua gestão com o uso de uma violência policial inédita que gerou um extermínio policial no Complexo do Alemão, jamais explicado e igualmente jamais cobrado socialmente. Em certos países, uma ação genocida como aquela teria obviamente feito cair o governador e seus auxiliares, mas nenhum deles teve sequer que responder judicialmente, numa prova cabal da anestesia política social. O evento da derrubada de um helicóptero policial na favela dos Macacos em Vila Isabel marcou então uma inflexão na estratégia de polícia. Às custas de um recrutamento enorme de novos policiais, através de concursos públicos que, de fato, geram empregos, mas oneram sobremaneira os custos da administração e fazem com que a balança dos investimentos públicos penda decisivamente para a área de segurança, em detrimento de outras, as UPPs configuram uma nova estratégia de ocupação de longo prazo “pacífica”. Não se sabe até onde vai este “pacífica”, pois as invasões e ocupações da Polícia Militar são precedidas por “silenciosas” e “obscuras” ações de “limpeza” do Bope, o Batalhão de Operações Especiais (não por acaso, protagonista do filme Tropa de Elite) prudentemente excluídas de cobertura pela imprensa. Mas se é verdade que estas ocupações ocorrem de forma realmente pacífica, sem o dispêndio de tiroteios nem custo de vidas humanas, a pergunta que se faz é: por que não foram tentadas antes? Não era pois, absolutamente estranho, que as intervenções policiais fossem medradas por uma dúzia de adolescentes, mesmo que fortemente armada? Ou era interessante, do ponto de vista do controle policial, que o tráfico de drogas fosse realizado na anacrônica forma de atacado em bocas de fumo que estavam longe de serem desconhecidas? E afinal haverá, ainda, algum tipo de negociação obscura entre o Estado de Direito e o Estado paralelo, antes que a operação de ocupação ocorra? Os últimos eventos relacionados ao sequestro de turistas no Hotel Intercontinental parecem sugerir algo deste tipo...

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