sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Eleições (11-final)

Mas o que seria uma política para além dos aparelhos de estado? Inicialmente é preciso rejeitar a ingenuidade de que é possível criar uma situação “não-aparelhada”.  Ganhar as ruas, retornar ao princípio básico de que toda política nasce nas ruas pela mobilização popular, que é nas ruas que se organizam as coletividades para as atividades políticas elementares tais como demandar, protestar, pressionar e, em extremos, interromper o livre curso das coisas, não significa esquecer que toda ação política ao final deve ser sustentável e que esta sustentabilidade é obtida através de diversos tipos de aparelhos sociais.  Como abordar as urgentes questões sociais quando os partidos políticos deixaram de ser arenas abertas de discussões para atuarem como máfias em nome de interesses particulares? Talvez devamos, em épocas de crise, acrescentar às tarefas mencionadas, que são as mais básicas de toda política, a prática da invenção. Invenção que pode aproveitar a lacuna aberta pela indiferença popular e a ausência de fé e compromisso político. Significa inventar não novos aparelhos, mas sobretudo novas aparelhagens políticas. Estas novas aparelhagens, que seriam autônomas em relação aos aparelhos (p.ex. os Partidos), deveriam prover dispositivos públicos que funcionariam socialmente como fóruns de discussão e proposição de ideias. Aparelhagens que não significassem mais controle social e sim espaços de convivência e compartilhamento de ideias.  Teríamos um redimensionamento do conceito de participação política com a presença voluntária nestes espaços (Isto é muito mais importante do que a estéril discussão se o voto deveria ser obrigatório ou não. Atualmente  não está fazendo a menor diferença...).  E, sem dúvida, essas aparelhagens contariam com os recursos cibernéticos que hoje tornam possível uma participação virtual, não-localizada, expandindo sua potencialidade. E a partir daí novas coletividades poderiam surgir.  Não é isso que em 68 os jovens queriam dizer quando foram às ruas e pichavam as paredes exigindo “a imaginação no poder”?  

Nenhum comentário: