quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Eleições 2010 (8)

A ausência de menção no programa dos candidatos em relação ao trabalho é um exemplo claro de despolitização da campanha nestas eleições. É como se o trabalho tivesse se tornado um assunto exclusivo da vida privada das pessoas e não fosse um assunto público. O que nos leva novamente ao tópico do grau 0 político e nos faz compreender melhor o fenômeno do lulismo. Eleito em 2002 como um representante típico do sindicalismo brasileiro e, enfim, do próprio mundo do trabalho, Lula só se tornou aceito e “adotado” pelas elites econômicas e financeiras do país, que hoje o apóiam em sua maioria, como alguém que poderia “domesticar” as crescentes tensões sociais da vida brasileira, incentivadas pela histórica desigualdade social. Estas tensões corriam o risco de sair de controle depois do “encolhimento” do Estado, levado a efeito pelo tucanato anterior e sua política neo-liberal. O lulismo teve a tarefa de absorver na imensa malha do estado os movimentos sociais e suas crescentes demandas. Lula, num certo sentido, “patrimonializou” os movimentos sociais brasileiros. Assim, ocorreu o paradoxo de que um representante das “esquerdas históricas” tenha conseguido com sucesso despolitizar a vida nacional como seus antecessores não teriam jamais pensado. Um exemplo típico é o MST: o que representa de ameaça à ordem instituída o Movimento dos Sem-Terra em relação ao que representava nos anos de FHC, quando era considerado nada menos que a figura de um movimento semi-guerrilheiro?

Nenhum comentário: