sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Eleições 2010 (10)

Mas como passar da indiferença e do cinismo para a participação política? Pode-se dizer que aí é que reside o problema maior. As velhas estratégias de engajamento já não mais funcionam. Diante do fracasso político de sua geração, ainda na década de 80, o cantor Cazuza dizia que precisava de uma ideologia para viver. O problema é que as antigas ideologias já não convencem mais.  Mas é um engano supor, por outro lado, que já não há mais novas ideologias ou que nenhuma é mais convincente. Ao contrário, na sociedade de consumo capitalista elas se tornaram até mais sutis e, por isso mesmo, mais persuasivas. A típica ideia de que devemos abandonar a esfera pública e deixá-la  à mercê de gestores para  nos dedicar integralmente aos afazeres privados é uma poderosa ideologia.  Esta ideologia da não-ideologia é a chave para um consumo livre e sem “culpas” dentro da esfera privada enquanto outros se encarregam de decidir nossos destinos sociais. Ao mesmo tempo em que se assume que não há mais ideologias, uma série de novas questões se torna premente: a questão ecológica que ultrapassa as fronteiras nacionais, incluindo o tema urgente do aquecimento global, os obstáculos crescentes ao livre trânsito dos trabalhadores, a necessidade de regulação social das pesquisas biogenéticas, a importância da discussão  democrática dos novos rumos tecnológicos, o debate acerca dos impactos da geração energética no ambiente e na sociedade,  o livre acesso à informação e ao conhecimento para que estes não se tornem mercadorias e  o controle das patentes em questões que englobam a saúde pública e o patrimônio biogenético. Uma simples conferida nos programas dos principais partidos políticos mostra que suas plataformas passam ao largo da maioria destas questões. Mas a preocupação maior vai noutro sentido: não será que a forma dos aparelhos, baseada em partidos políticos centralizados, não se tornou obsoleta frente a estes novos desafios? Será que nossa incredulidade em sua função não significa que a política está para além dos aparelhos? 

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