quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Eleições 2010 (9)

O grau 0 político, a escolha por um sistema de administração de pessoas no lugar do real exercício da luta política, é o fim da ideia da eleição como representatividade. De fato, os eleitos já não mais “representam” os cidadãos que os elegeram, pois já não há mais o elo compartilhado seja de um conjunto de ideias (ideologia), seja mesmo de um projeto de governo. Eles foram ou serão eleitos como “gestores” de aparelhos e já não carregam mais em si as expectativas das parcelas do eleitorado por mudanças sociais. Neste processo os partidos se desfazem, pois ninguém mais “toma partido” de ideia nenhuma, pois simplesmente não há mais ideias. Mas talvez haja algo de positivo nesta situação catastrófica. Talvez chegar “ao fundo do poço” tenha o caráter benéfico de produzir uma inflexão e não ficar preso ao lodo do “quanto pior melhor” fascista. Esta inflexão seria a produção de certa indiferença ao caráter determinante dos aparelhos na organização social. É verdade que esta indiferença pode significar a difusão de um cinismo generalizado, o que aliás já é evidente socialmente. Porém, este cinismo é antes um sintoma desta indiferença do que sua causa. Ele produz, ou é índice de, um distanciamento em relação aos aparelhos de poder como pólos de decisão pública. Este distanciamento significa, sobretudo, a perda da crença na efetividade política dos aparelhos. E de fato, para que os aparelhos de poder funcionem, é preciso que se creia neles ou, ao menos, que se finja crer. E mesmo este fingimento é hoje inviável...

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