quinta-feira, 21 de abril de 2011

O pão nosso de cada dia

Imagem de Yasmin Hirao


O pão nosso de cada dia
está nas ruas esburacadas
onde se escangalha todo o carro,
está nas calçadas quebradas,
onde se tropeça feito um bêbado,
no sacolejo ensimesmado do metrô
onde se pensa a morte da bezerra,
na carência fodida de todo amor
quando se volta a sentir a falta da mãe,
na ausência completa de uma boa foda,
quando se fica inteiramente na mão,
no infrene e estonteante giro da  roda
que não dá nenhum descanso,
na batalha perdida da labuta
que a mais-valia sempre prostitui,
no sorriso constrangedor da prostituta
que te chupa enquanto pede carinho;
está no suor do esforço do parto
quando se pergunta pra que mais gente, meu Deus?
ou no prenúncio iminente do infarto
quando haverá pouco o que se fazer;
está na voz endemoniada do Pastor
enquanto induz o descarrego,
inscreve-se na hipocrisia do louvor
que o padre pede ao seu sermão;
está na mentira escarrada da publicidade
que promove o que não interessa,
está em se perder numa cidade
quando não há vontade de voltar pra casa,
na impossibilidade de encontrar o norte,
pois não há bússola que dê jeito
para o que se lamenta como falta de sorte
mas é apenas vazio de desejo.

oh Vida, pão da Morte!