quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Teses sobre o desejo (1)

O que se deseja? Por certo que não um objeto que, uma vez obtido, o possuiríamos.  Para falar como os engenheiros, o desejo não é “orientado a objetos”. Mas para onde aponta o desejo, afinal?  Antes de chegar a seu destino, se chegaremos a algum lugar, ou se é que o desejo tem um lugar, talvez seja interessante começar pela linguagem, onde o desejo se instala, se incrusta, segundo a psicanálise. O bebê chora. O recém-nascido não sabe de nada, ele apenas sente o mundo como um incômodo, um desconforto violento. Seu choro nem sequer é um choro, ele apenas se exprime de maneira imediata, pura expressão direta. Então vem o seio da mãe. O bebê sente a delícia provisória do seio inundar sua carne como ondas de prazer. Então ele dorme. E depois volta o desconforto, aquela sensação insuportável retorna. E o bebê chora. E o seio da mãe logo se apresenta. E o bebê retorna ao mundo delicioso da dor postergada no mamilo sugado. Para a psicanálise, a linguagem se inicia na conexão lógica que se estabelece entre o choro e o seio materno, entre a necessidade que se “apresenta” no choro como simples dor de existir, que o bebê sente de maneira bruta e primordial, e a demanda por alívio, que se “representa” no seio materno. Porém, entre choro-dor e seio-delícia há um atraso, uma defasagem. Em sua demanda, o bebê quer ser prontamente atendido, mas há uma demora, um hiato. O desejo é esta lacuna.

Nenhum comentário: