quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Teses sobre o desejo (7)

Para a psicanálise, o que causa o desvio do sexo de seu objetivo “natural” reprodutivo é o desejo. Aqui há uma relação dialética: por um lado, o sexo, como corte, rasgo, fissura, é o que possibilita a emergência do desejo; por outro, o desejo funciona como um elemento perturbatório que desvia o sexo de sua rota “natural”. Sem o desejo, o sexo entre os seres humanos seria uma atividade tão regular e limitada como em todos os demais animais. Sem o sexo, no entanto, não haveria desejo. Podemos imaginar didaticamente o sexo como um corte passando pela linha da cintura e dividindo cada pessoa entre um pólo sul, abaixo da cintura, e um pólo norte, acima da cintura, tal como um dipolo magnético. Nesta modelagem, o desejo poderia ser desenhado como uma linha vetorial “magnética”, saindo do sul e fazendo uma curva, uma deflexão, um arco, afastando-se e atravessando o “mundo”, mas retornando afinal ao pólo norte como ponto de chegada.  Assim, o desejo não conseguiria completar uma “volta” completa, exatamente porque o corte sexual gera uma área de “sombra”  refratária entre os dois pólos. É exatamente esta impossibilidade de “completar” o ciclo que faz do desejo algo tão incongruente, incompleto, fissurado, ou, em outra palavra, “estranho”... 

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