segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Teses sobre o desejo (5)

Com o sexo, a perda de autonomia reprodutiva trouxe, para cada ser vivo, a questão da alteridade. Esta entrada súbita do “outro” para a vida, no lugar da existência meramente egotística dos primeiros seres unicelulares, só pode ter sido recebida como um verdadeiro trauma para o processo da vida em geral. Assim, não surpreende que a maioria dos seres tenha suas formas reprodutivas estabelecidas através de férreos rituais de acasalamento. Para a quase totalidade das espécies, salvo a humana, a cópula sexual se realiza através de formas determinadas, com limites de ação muito estreitos aos “parceiros”. Este ritualismo sexual programado se justifica como um limite à abertura da “alteridade” exigida pela relação sexual. Reduzir ao máximo à entrada do “acaso”  e permitir a  que a seleção natural faça seu trabalho combinatório através do sexo é objetivo dos rituais instintivos de acasalamento que possuem fortes pregnâncias biológicas: cores, cheiros, sons... Nos animais, portanto, a cultura (o ritual) se alia à natureza (emanações biológicas) para garantir a continuidade da espécie.

Nenhum comentário: