sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Teses sobre o desejo (4)

Evidentemente, o desejo tem a ver com a sexualidade. O que é o sexo em relação à libido e ao desejo? Sexo é exatamente o que diz seu nome. A palavra “sexo” tem a mesma raiz etimológica que “secção” e “seccionamento”. Sexo é corte,  rasgo, fissura. Durante aproximadamente 3 bilhões de anos a vida se desenvolveu na Terra através da reprodução assexuada. A cissiparidade significava autonomia reprodutiva, cada organismo se autoclonando com independência e sem auxílio dos “outros”. Quando, há cerca de 1 bilhão de anos,   surgiram os primeiros eucariontes sexualmente ativos, esta mutação deve ter sido considerada como uma aberração e um verdadeiro trauma.  Para estes novos seres vivos, só era possível seguir adiante arranjando um “parceiro” para colaborar. Ou em outras palavras, mais filosóficas: com a sexualidade, cada ser teve que se abrir a um “outro”  para que a espécie continuasse. E com a entrada do “outro” na cena existencial vieram duas coisas: a individualidade (cada ser tinha um código genético único) e a mortalidade.  Antes, cada organismo era uma mera cópia genética um do outro e não havia, por assim dizer, individualidade, tampouco morte.  Após, cada ser passou a trazer em si uma marca genética singular que a morte faz desaparecer. Mas, apesar da perda de autonomia reprodutiva, a eclosão da sexualidade se revelou um sucesso evolutivo. Antes, a evolução só se dava através de mutações quase sempre fatais e com um passo altamente moroso. Com o sexo, a combinação genética dos gametas produziu rapidamente uma diversidade de seres que tornou o fenômeno da vida muito mais resistente, por sua complexidade, às ameaças de catástrofes cósmicas, geológicas e climáticas. E muito mais complicado também...

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