terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Teses sobre o desejo (11)

O desejo é o desejo do Outro. Esta genial fórmula lacaniana divide o desejo em duas partes: o desejo é desejo de desejo, desejo de desejar; e é um desejo de, do, Outro, um desejo outro. Nesta fórmula, portanto, está presente a divisão entre o Mesmo (o desejo do desejo) e o Outro (desejo do outro) que traduz o paradoxo do desejo que circula sobre si mesmo, num arco ou numa dobra, mas sem se fechar ou se completar.  Ora, a incompletude do desejo, seu não-fechamento, é precisamente aquilo que o faz se movimentar, que o impede de se estabilizar como o Mesmo.  Manter-se como o Mesmo é o ideal narcísico que, curiosamente, é também o ideal neurótico o que indica que a neurose é um caso especial do narcisismo, o que Freud, aliás, foi o primeiro a intuir. Ao fechar-se loucamente para a entrada, chegada, para a “penetração” do Outro, o neurótico apenas demonstra o apego à imagem idealizada de si próprio, vendo em qualquer alteridade uma potencial ameaça a sua tão prezada mesmidade.  

Nenhum comentário: