segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Água-viva

Começa então um caminho,
ele se confunde com o passo
como escondida nos braços
está a promessa do abraço.

No início, só sensações,
estranha esta vertigem,
talvez não seja início
pois não se enxerga a origem.

Aonde quer que se vá
para o passo é só passagem
onde soa doce melodia
avisar não levar bagagem

além do mais difícil afeto,
frágil, mas na carne impresso.
Não seria solução
cortá-lo por falta de nexo.

Tampouco necessário
carregá-lo como um estigma.
Este afeto leva a gestos
que se inscrevem no ar sem enigma,  

porém insondáveis. Como linhas
coladas a uma superfície
e que se integrassem a ela
como a grama numa planície

mas moventes como a água-viva
é a água mais viva e ativa
e que arde, pois é ardência
ela, a chama mais incisiva.

Neste mover não mais se discerne
o que está dentro, o que está fora,
É pulsação, batimento,
um ritmo dizendo Agora!,

a vibração na atmosfera
que faz do ar sopro e alento,
e traz à corrente sanguínea
elétrico estremecimento.

Excede toda posse e senso,
seu sentido qual seria?
Menos andamento que onda,
menos história que alegria.

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