quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Here's where the story ends

Aqui a história termina,
e ali ela recomeça,
como num quebra-cabeça
onde faltasse uma peça
que não tivesse importância
pois melhor é desmontá-lo
para juntá-lo em mil arranjos,
polígono de mil lados.
Cada dia é um abalo
para o qual faltam asas de anjo
mas que equilibra no embalo.
O sol lá fora é um fardo,
mas não falha sua fagulha
e ainda dá bom bronzeado.
O olhar da moça é um dardo
mirado em suas certezas,
mal treme sobre o salto-agulha
e nunca leva estabaco.
A vida é o que se segura
como pedras diminutas
que formassem estranho ábaco.
Qual secreta matemática
evitaria o desenlace
certo, a previsível cena?
Não há conclusão tão trágica
que também não tenha graça,
não sua significação cômica,
mas a que no instante acena
com a oportunidade cósmica,
aquela que, num relâmpago,
se funde com o fundo do osso
e dá um sopro no estômago.
Este é o clarão que mais cega
para que a retina fique fina
e que distante distingua
o traço invisível da linha.
Linha de enrolado novelo
ou insólita novela.
Linha para apurado tato
que se desfia sem destino
pois o fio é a própria fibra
com que se arma uma tela.
E que delicada língua
soletraria  a sílaba
com que se desdobra o segredo?
Mesmo a deriva é um enredo
como uma intricada trama
de uma rede em que cada nó
fosse seu ponto central.
Perder-se enfim não é mal,
perder-se é um caminho só,
perder-se é saber quão difícil
seria precisar qual
seu término, o seu início.

Guilherme Preger

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