terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Valparaíso: canção

Valparaíso

Valparaíso: ascensores, grafites e gaivotas
sob a mirada tumultuosa do Pacífico
e a chegada iminente do tsunami.

Jovens tatuados se divertem
com os malabares, músicos
tocam tambores no meio
do trânsito e mendigos
dormem em bancos de praça
nas noites geladas,
enquanto o sonho e a maresia
incrustam os muros
com a tinta dos aerossóis.

Los trabajadores hacen la cola
pelas lotações para chegar
aos barracões nos altos
cerros, e a riqueza
cenográfica das mansiones
é inapropriada como a água
de la playa em Vinã del Mar.

Valparaíso, patrimônio
eterno do mundo libre,
como os perros que perambulam
pelas ruas e latem
quando eclodem as campanas
de las iglesias
há quinhentos anos.

Observar do alto das ladeiras
esse oceano infinito,
rasgado por gruas e cargueiros,
é ter a consciência exata
de que a sapiência humana
é uma fraude.

Diminuta, ela só pode
rabiscar sua ignorância
entre o sono e a ansiosa
espera pela magnífica
e misericordiosa

OLA.

Valparaíso, 12 de fevereiro de 2017


por Guilherme Preger



 

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