quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Teses sobre o desejo (10)

“Narciso acha feio o que não é espelho”: o aspecto monstruoso do desejo é o de sua estranheza, de parecer vir de um outro lugar, de não lhe “pertencer”. Portanto, o primeiro ato em relação ao desejo é o de reconhecimento. Reconhecer o desejo é oposto a reprimir o desejo. No lugar de dizer “não quero saber nada disso”, frase predileta dos histéricos e neuróticos ao recusarem a forma monstruosa do desejo, o ato de reconhecer o desejo como um desejo seu, próprio, é o passo inicial de estar “conforme a seu desejo”. É um ato não apenas ético, mas estético, de fazer a “monstruosidade” se tornar algo belo, apenas por uma mudança de perspectiva, como um ato de assumir o próprio desejo. Assim, a famosa “luta pelo reconhecimento” de que falava o filósofo Hegel é travada inicialmente em nossa intimidade. Como querer que os outros nos reconheçam se nós mesmos não nos reconhecemos? Mas aí entra algo de sutil, pois um reconhecimento de si, como um olhar para si próprio, tem algo de paradoxal. Não podemos olhar para nós próprios (i.e. para “nós outros” como bem dizem os ibéricos...) a não ser passando pela alteridade de um olhar que vem de “fora”...  

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