segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Incêndio

Insuportável. O pobre container, a caixa porosa onde se alojava a carne despojada agora mal sustenta suas vibrações. Ondulações repetidas que se estendem indefinidamente, para as quais não se entendem suas codificações e mensagens. Apenas pulsações. Os contornos se desfazem e se pulverizam e como num espalhamento de rádio-isótopos, a irradiação contamina o ambiente com o excesso de sua inconsequência. Nenhum grito, nenhuma ardorosa ou arrebatada vocalização seria suficiente. Tão só a claridade ofuscante e térmica desta sensação infra-vermelha. E na atmosfera iridiscente que envolve com um halo a desfiguração desta silhueta, circunvoluções fosforescentes se elevam como anéis de fumaça, como se transpassada pelo bombardeio solar de bilhões de neutrinos. E nada mais cabe a ser sugerido, somente sói o excitado silêncio que se desprende deste sôfrego, intenso, íntimo incêndio.
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Imagem de Fernanda Franco

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